Os primeiros jogos lançados para o Mega Drive
Quando a Sega tentou se aventurar pela no mundos dos videogames de mesa, enfrentou um longo caminho de pedras, em especial por conta da Nintendo. A sua primeira tentativa neste mercado, o SG-1000, sofreu com destino de estreiar no exato mesmo dia que o Family Computer da Nintendo, em 15 de Julho de 1983.
Com um hardware inferior ao da concorrente, o mercado japonês logo consagrou a Nintendo como líder. Os esforços da Sega para emplacar seu console seguiram adiante, criando atualizações para o mesmo, até culminar na criação do Sega Mark III, nome original utilizado no lançamento do Master System, lançado em 20 de Outubro de 1985.
O Master System apresentava um hardware que superava o Famicom/NES, entretanto, com o tempo em que a Nintendo esteve à frente do mercado ela garantiu tempo suficiente para consolidar seu nome e assim firmar contratos de exclusividades com as grandes softhouses japonesas. A influência de poder de mercado que a Nintendo tinha na época foi tão grande, que a Sega se viu obrigada a sustentar um console inteiro apenas com títulos desenvolvidos pela mesma, dos mais diversos gêneros.
Além do mercado japonês, aquela altura a Nintendo também já dominara o mercado Americano, que aliado com os péssimos acordos comerciais realizados pela SEGA, a colocara fora dos principais mercados consumidores do mundo, apesar de conseguir relativo sucesso na Europa e, em especial, no Brasil.
Frente às falhas consecutivas e o nascimento de um novo rival no mercado japonês, o PC Engine que deu a largada aos consoles de mesa com processamento de 16-bit. O até então presidente da SEGA, Hayao Nakayama, ordenou a criação de novo projeto capaz de reproduzir fielmente as experiências dos arcades. A história da SEGA, em mais detalhes, fica para outro momento, mas esse pano de fundo nos é suficiente para localizar o momento histórico ao qual nos referimos.
Em 29 de Outubro de 1988, Mega Drive tem oficialmente seu lançamento consumado no Japão. Com objetivo comercial de trazer a experiências dos arcades para dentro de casa, o palco está pronto para os primeiros títulos que demonstram o poder do Mega Drive. Nesse anúncio impresso, da revista Famitsu de 1988, é possível ver a SEGA com o slogan “É chegada a era dos 16-bits.”. Além de chamar atenção para as qualidades técnicas do console, como melhor qualidade de imagem, a alta velocidade de processamento e chips sonoros.

Além disso, entre os títulos que iriam chegar para os primeiros meses do lançamento os jogos estão Altered Beast, Space Harrier II, Super Thunder Blade, Phantasy Star II, Osomatsu-kun, Alex Kidd and the Enhanced Castle e Super Daisenryaku. Os quais serão palco da nossa discussão durante este artigo.
No dia oficial do lançamento do Mega Drive, dois títulos estavam imediatamente disponíveis para a compra, resultando em dois finais diferentes para a história. Aqueles que compraram Space Harrier II, conseguiram o final bom, aos que escolheram Super Thunder Blade, ficaram reservados ao final ruim.
Space Harrier II (1988)

Space Harrier (1985) foi um título que fez sucesso no arcades japoneses, em especial por conta de seus visuais e jogabilidade que conseguiam imprimir na tela uma sensação tridimensional. Devido ao sucesso deste título nos arcades, uma sequência foi pensada exclusivamente para o lançamento do Mega Drive.
Space Harrier II é uma variação do estilo de jogos “Shoot’em Up”. A diferença é que ao invés de uma nave controlamos um cara voador com um canhão laser embaixo do braço. A perspectiva também é diferente, a “câmera” do jogo fica localizada nas costas do personagem, enquanto avança continuamente para a frente voando em trajetórias elípticas.
A principal característica deste título é demonstrar a velocidade de processamento do Mega. O jogo conta com doze fases que podem ser selecionadas como inicial, mas o verdadeiro chefe que está na décima terceira fase só é revelado após o jogador passar por todas as doze fases anteriores, independente de qual ele escolheu para ser a inicial. A cada fase a velocidade vai aumentando, junto com a aparição de obstáculos e inimigos. Ao final de cada fase a corrida para e o personagem precisa derrotar um chefe. A velocidade do é tanta que até mesmo o cenário para o personagem continua correndo, quer algo mais Blast Processing do que isto?
Outra coisa que impressionou a época foi a ilusão de tridimensionalidade causada pelo título. Devido ao fato do Mega Drive não conseguir reescalonar sprites, é possível notar que cada etapa dos objetos e inimigos se aproximando da tela foi desenhada separadamente e animada sequencialmente de forma a parecer maior à medida que eles se encontram mais perto. A solução é inventiva, apesar de alguns momentos dar a impressão de que os objetos se movem como um powerpoint.
O visual de Space Harrier II pode à primeira vista parecer extremamente básico, mas a direção de arte cumpre seu papel criando um universo coeso o suficiente para criar uma harmonia que o torna um jogo curiosamente bonito. O jogo possui uma dificuldade padrão alta, como é o padrão da época, porém é gentil com o jogador presenteando-o frequentemente com vidas extras. Apesar de simples, Space Harrier II cumpre bem o seu papel inicial de apresentar o que o Mega Drive era capaz de fazer. Mesmo hoje é capaz de gerar algumas boas horas de diversão com um desafio justo. Incluindo o fato de que o jogador pode iniciar de qualquer fase, ajudando a treinar as fases que está com dificuldade.
Super Thunder Blade (1988)

Disponível para a compra no dia do lançamento do Mega Drive no Japão, Super Thunder Blade é o irmão feio de Space Harrier II. O jogo segue os mesmos princípios de jogabilidade do anterior, trocando o cara por um helicóptero. Por consequência invertendo os controles do direcional. A única grande diferença de jogabilidade é que em algumas partes a visão do helicóptero muda para uma visão superior.
O jogo não é de todo injogável, mas é perceptível que não recebeu o mesmo polimento de Space Harrier II. Muito provavelmente sua produção teve de ser acelerada para que fosse possível ofertar mais um jogo no lançamento oficial do console. Super Thunder Blade é um jogo mais curto, porém mais difícil.
É possível perceber que a colisão de projéteis não foi tão bem programada, caso o jogador se mantenha em constante movimento nunca será acertado por nenhum projeto. O maior inimigo aqui acaba sendo o cenário, que também foi animado utilizando versões cada vez maiores de um mesmo conjunto de sprites. É possível parar o helicóptero no ar para corrigir a rota, mas mesmo assim a animação no estilo powerpoint acaba comprometendo a percepção tridimensional do jogo e inevitavelmente o jogador irá dar de cara inúmeras vezes com uma parede.
O jogo credita Yuji Naka como seu produtor, um nome que anos mais tarde viria a ser conhecido pela alcunha de “pai do Sonic”.
Altered Beast (1988)

Altered Beast, ou Juuouki no Japão, foi a principal aposta da SEGA no início de vida do Mega Drive, sendo lançado apenas algumas semanas após o lançamento oficial do console. Para a época o jogo impressiona pela fidelidade que apresentou no port de um dos títulos de arcade da empresa para o hardware de mesa.
De acordo com a história do Manual, Athena é raptada por Neff, o Deus do Submundo, que é uma versão de baixo orçamento de Hades. Para salvá-la, Zeus ressuscita um centurião para que lute por ele. Apesar do jogo mencionar os Deus gregos, a palavra centurião se refere ao soldado que liderava tropas militares romanas. Conhecendo a natureza da missão, Zeus concede ao Centurião o poder de se transformar em criaturas semi-humanas.
O jogo conta com cinco estágios que aumentam sua dificuldade gradativamente. Os estágios são curtos, mas o jogador precisar de atenção para coletar algumas esferas que são liberadas por alguns Cerberus Brancos. Coletando três delas em sequência, o Centurião transforma-se em uma das cinco criaturas presentes no jogo: Lobo, Dragão, Urso, Tigre e Lobo Dourado.
As fases são corredores extensos com até três seções, ao final de cada uma Neff encara o jogador. Caso a transformação não tenha ocorrido ainda, Neff irá embora e aguardará na próxima secção. O processo se repete até a seção final, na qual se a transformação não for atingida, Neff irá atacar o que resultará em um game-over.
As mecânicas implementadas são extremamente simples, sendo um beat’em up sidescrolling de um único plano. As fases finais vão requerer um aumento maior da atenção em decorrência da dificuldade e necessidade memorização. Com poucas tentativas é possível trivializar o processo e conseguir o final do jogo. Após isto ele irá repetir as mesmas cinco fases com uma dificuldade mais elevada. O seu grande trunfo é o visual e o cumprimento da promessa da experiência arcade dentro de casa. O jogo foi escolhido para ser o título oficial do lançamento americano e até a chegada de Sonic the Hedgehog, era o cartucho vendido com o aparelho.
Apesar disso, Altered Beast envelheceu bem mal, a simplicidade do gameplay junto de uma dificuldade artificial acabam por trivializar o processo depois que o jogador consegue dominá-lo.
Osomatsu-kun: Hachamecha Gekijou (1988)

Último título lançado para o Mega Drive em 1988. primeira obra de uma licença que não pertence a SEGA e primeiro jogo a ficar apenas no Japão. Osomatsu-kun foi um mangá de humor voltado ao público infanto-juvenil que fez bastante sucesso durante os anos 60, um anime foi produzido na mesma época. Contudo, o Studio Pierrot (o mesmo estúdio responsável pela animação de Urusei Yatsura e Yuu Yuu Hakusho) produziu um remake em 1988 exibido na TV Fuji.
O jogo é frequentemente citado como um kusoge (literalmente, jogo de merda), termo usado para classificar jogos de qualidade duvidosa, mas que por algum motivo são divertidos de jogar. O clássico “é tão ruim que fica bom”. Osomatu-kun aparenta sofrer do mesmo problema de Super Thunder Blade, um desenvolvimento acelerado. O jogo é curto, possuindo apenas três fases, extremamente confusas de se navegar, muitas vezes o jogador se vê preso em círculos tentando adivinhar a saída, o que é bastante frustrante.
Apesar disso, o visual que apela para um humor bastante escrachado japonês é um charme à parte desde o título. O que provavelmente acabou por conquistar um certo carinho do público que o jogou. No entanto, a crítica da época e o público detonou o jogo, por não estar a altura do que já estava disponível no Mega Drive. Uma lenda repercutida na internet é que o autor da obra Fujio Akatsuka, conhecido por um temperamento não tão cordial e pela falta de papas na língua, quando viu o resultado apresentado, arremessou um cinzeiro com raiva nos desenvolvedores da SEGA. De acordo com o site MDShock, desenvolvedores da SEGA confirmaram o ocorrido apenas em 2017, mas não deram muitos detalhes sobre o caso.
A revista Beep! Megadrive publicada durante toda vida do console até em 1995 alterar seu nome para Beep! Sega Saturn, realizou na sua última edição uma votação com os leitores, contemplando todos os jogos do Mega Drive. Osomatsu-kun: Hachamecha Gekijou aparece no final da lista com uma média de 3.29.

Alex Kidd and the Enhanced Castle (1989)

Oficialmente o último título em que Alex Kidd é o personagem principal, antes de ser demitido do posto de mascote da casa. Após alguns títulos fazendo experimentações, a SEGA retorna o Alex Kidd a fórmula apresentada em Alex Kidd in the Miracle World. Contudo, sem a mesma inspiração que o título original trazia consigo. A trajetória do Alex Kidd dentro da SEGA foi de altos e baixos, porém este título foi aquele que pregou a tampa do caixão para o personagem.
Alex Kidd and the Enhanced Castle (1989), como dito, trás de volta a jogabilidade do clássico Alex Kidd and the Miracle World (1986) lançado para o Master System, sendo uma continuação direta daquele jogo. Algumas poucas mudanças ocorreram, como o fato de sempre haver uma partida de joquempô dentro das lojas de itens, ser possível ativar e desativar os itens equipados a vontade
Com 11 fases, algumas bastante curtas, Alex Kidd and the Enhanced Castle decepciona por conta de seu visual, que em especial quando comparado com seu primeiro jogo. Além disso, graças a física alterada é bastante difícil movimentar o personagem pela tela. Apesar disso, o título é sim divertido, sendo posicionado muitas vezes como um dos títulos favoritos por jogadores, em especial no Brasil.
Phantasy Star II (1989)

Um dos grandes empecilhos para o sucesso do total do console na sua terra natal foi a baixa produção e publicação do gênero RPG. Apesar disso, o Mega Drive recebeu poucos e bons títulos. O primeiro, sendo também uma sequência de um título do Master System, o jogo Phantasy Star (1987).
Produzido por Yuji Naka, com visuais de Rieko Kodama, que infelizmente faleceu em 2022, e dirigido por Chieko Aoki. A série é a resposta da SEGA para Dragon Quest, que em 1988, já alcançava uma fama estrondosa no país graças ao terceiro título da franquia: Dragon Quest III : Soshite Densetsu he… (1988). Phantasy Star opta por um caminho diferente do clássico RPG medieval e envia o jogador para um futuro distante.
Na Galáxia Andrômeda, mil anos se passaram desde os eventos de Phantasy Star, quando a heroína Alis Landale derrotou o monstro Lassic. Nesse período, um dos três planetas do sistema solar de Algol, Motávia, foi transformado de um deserto em um paraíso tropical por Mother Brain.
Motávia e seus moradores vivem em pequenas vilas demarcadas por domos, com a vida de todos controlada por um supercomputador, o Mother Brain. O jogo inicia com um sonho de Rolf, protagonista da aventura, que mostra uma garota lutando contra um demônio enorme. Rolf acorda no momento em que o demônio estava prestes a matar a garota, o sonho o deixa confuso sobre seu significado.
Ao sair de casa, Ralf se encontra com o governador de Motávia, que o passa a missão de verificar o que ocorreu na torre central, pois os recursos que a Mother Brain utilizava para manter o planeta foram direcionados para um antigo laboratório. Causando assim a aparição de diversos monstros ao redor das cidades. A missão é investigar qual a real intenção da Mother Brain.
Super Daisenryaku (1989)

O último título que iremos cobrir hoje é Super Daisenryaku, jogo de estratégia baseado na Segunda Guerra Mundial. A série Daisenryaku é bastante extensa, tendo seus primeiros títulos lançados em microcomputadores, como o PC-98 e o MSX. Existem poucas informações na internet a respeito deste título.
No jogo, o jogador coordena o exército, marinha e aeronáutica avançando pela Europa com o destino de derrotar a Alemanha Nazista. Passando por diversos mapas que garantem horas de gameplay aos gêneros deste tipo. Segundo o site Sega Retro, Super Daisenryaku sofreu uma má implementação do sistema no qual ocorre o reconhecimento o jogo como oficial, o que o tornou injogavel nas outras versões lançadas do console. Isso muito provavelmente fez com que o jogo ficasse perdido dentro da biblioteca do Mega Drive. A série ainda chegou a ganhar um outro título em em 1991, chamado Advnaced Daisenryaku : Deustch Dengeki Sakusen, que ao contrário deste é razoavelmente bem conhecido e avaliado pela comunidade.
Material Referencial
Beep! Megadrive (1995) – Ed. 1
Famitsu (1988) – Ed. 61
Famitsu (1988) – Ed. 65
MDShock – Osomatsu-kun: The Bizzare Story of the Mega Drive’s Most Infamous Game.
Sega Retro – Super Daisenryaku


